Ementa:
O universo cultural é tão vasto que molda a nossa concepção e nossas ações perante as outras espécies desde a mais tenra infância, seja através das rotineiras músicas cantadas, da decoração de um quarto infantil, e até mesmo pelas nossas preferências por determinadas espécies de animais em detrimento de outras.
O antropólogo Marshall Sahlins já apontou que a cultura pode ser fator preponderante nas decisões. Estudá-la é necessário para compreender as relações que humanos estabelecem com outras espécies.
No entanto, pensá-la nos coloca diante de questões conflituantes. Por um lado há a necessidade de respeitar suas peculiaridades, especialmente quando estas se referem a povos cujas práticas e representações estão historicamente enraizadas e por vezes construídas a partir de ontologias diferentes das da ciência e a filosofia ocidental. Por outro, o argumento culturalista por vezes é utilizado para perpetuar práticas e representações antigas e/ou éticamente questionáveis como, por exemplo, o maltrato aos outros animais. Este embate permeia, por exemplo, as discussões em torno do uso de animais em contextos religiosos, em práticas populares como a farra do boi, a caça, e outras práticas de relação ou exploração animal.
Portanto, cultura e tradição se entrelaçam em nossas práticas sociais moldando nossas escolhas, preferências e decisões, sendo fundamentais para moldar uma mentalidade especista.
Mas será que as práticas tradicionais são sempre especistas? No Brasil ainda se faz uso da palavra “tradicional” para se referir às comunidades indígenas, quilombolas e grande diversidade de modos de vida como ribeirinhos, agroextrativistas, etc. Esses povos e comunidades tradicionais têm modalidades de uso do território e de relação com a natureza que, em geral, são muito resilientes, distintas das sociedades industriais capitalistas. Poderão tais modalidades de relação com a natureza ser não predatórias, não exploratórias e não coisificadoras? Em tais contextos os animais têm um lugar peculiar? Qual? Distinguem o tratamento de animais silvestres e domesticados do mesmo modo em que o distingue a sociedade urbano-industrial?
Considerando essas questões, entre tantas outras, propomos o GT \”Animais, Sociedade, Cultura e Tradições\” com uma abordagem interdisciplinar, dialogando com a antropologia, a sociologia e demais áreas das Ciências Sociais sobre a questão animal.
Sugerimos as seguintes linhas de trabalho:
– animais na socialização infantil;
– animais na tradição e cultura alimentar;
– relação humano – animal em povos tradicionais
– contratos domesticatórios em diversos contextos culturais
– problematização de argumentos culturalistas para justificar a exploração animal.
– perspectivas sobre Direitos da Natureza e Justiça Ecológica em determinados contextos culturais
– animais na cultura e tradição religiosa;
– intersecções entre antiespecismo, racismo e/ou questões de gênero
– impactos da cultura midiática nos animais
– impactos da cultura escolar na relação com os animais
Os artigos deverão ser enviados para o correio eletrônico:
congresso.direitoanimal@gmail.com
Edital-02-2021-Chamada-de-Artigos-Atualizado.pdf